domingo, 22 de dezembro de 2013

Rarefeito

Parece rarefeito (difícil de respirar)
Tudo aqui por perto (feito prá estragar)
Quem está por perto? (longe de escapar)
Falta explicar (linguagem subliminar)

Ninguém consegue respirar
(tire o ar rarefeito desse lugar!)
Como pessoas inocentes
(numa câmara de gás!)

Vida rarefeita ("abandono no altar")
Multidão estupefata (briga na arquibancada)
Eu estava perto (assistindo a tudo do sofá)
E quem estava lá? (não viu o time jogar)

Todo mundo dopado
(é o ar rarefeito desse lugar)
Fácil de respirar?
(fumaça tóxica nuclear)

Tudo como está (defeitos para consertar)
Mal feito espetacular (não adianta escapar)
Não adianta reclamar (sem estátua para derrubar)
Fica rarefeito (no topo, na hora de escalar)

Cedo

Sendo assim, cedo demais...
Sem encontrar o que você queria
Abriu a janela para respirar
O ar fresco, brisa leve, ar do início do dia.

Cedo assim, sendo demais...
Ao lado de quem você tanto queria
Fechou a janela para aquecer (ou esquecer?)
A chuva fina, ventania, temporal no fim do dia.

Era a frase que ela queria:
"Você é a mulher da minha vida"!
E, mesmo que achasse exagero, sorria
Cedo demais, para toda a vida.

Demais e assim: não é para ter fim!
Sendo promessas e desejos
Um tanto de saudade?
Mesmo que seja cedo, antes do começo do dia.

Café amargo

Não importa a hora do dia
Se é tédio, sono ou agitação
Ao contrário do que se ouve,
É a voz da razão: "um gole de café amargo, sem açúcar"!

Parece vício, por enquanto
Balão de oxigênio para quem parece perecer
Dormir já pensando em que vai beber
Café amargo, feito na hora!

Dizem que é remédio
(Ouro líquido fervente)
Que servem <<prá'gente>>
(Durante o expediente!)

É vício para sempre
Grãos moídos em infusão
Mole, dura, bom para beber ou não?
Garrafa de café sobre a mesa (ritual de celebração)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Produção de Sentido, por Frei Betto

Segue parte do texto publicado no Estado de Minas de 17/04/2013.

(...) Vigora atualmente um descompasso entre o que se vê e o que se quer. Há uma multidão de jovens que deseja apenas um lugar ao sol sem, contudo, se dar conta das espessas sombras que lhes fecham o horizonte.

Quando não se quer mudar o mundo, privatiza-se o sonho modificando o cabelo, a roupa, a aparência. Quando não se ousa pichar muros, faz-se tatuagem para marcar no corpo sua escala de valores. Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o risco de injetar drogas.
Não fomos criados para ser carneiros em um imenso rebanho retido no curral do mercado. Fomos criados para ser protagonistas, inventores, criadores e revolucionários. Quando Hércules haverá de arrebentar as correntes de Prometeu e evitar que o consumismo prossiga lhe comendo o fígado? “Prometeu fez com que esperanças cegas vivam nos corações dos homens”, escreveu Ésquilo. De onde beber esperanças lúcidas se as fontes de sentido parecem ressecadas? Parecem, mas não desaparecem. As fontes estão aí, a olhos vistos: a espiritualidade, os movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direitos humanos, a busca de outros mundos possíveis.